Na última edição do programa Bom Dia Atividade Especial, recebemos José Reinaldo Lopes da Silva, de Monte Belo (MG). Recém-formado no curso de medicina, sua trajetória ganhou destaque na imprensa, pois ele deixou de ser um lavrador de café e venceu o analfabetismo funcional para se tornar médico.

A história de superação de José Reinaldo se inicia quando ao acompanhar sua irmã num tratamento, despertou seu interesse pela medicina. Ele contou que ficou observando o trabalho da enfermagem e dos médicos no hospital e começou a pensar o que teria que fazer para chegar lá.

José Reinaldo contou que parou de estudar no 5º ano do ensino fundamental e que era considerado analfabeto funcional, ou seja, sabia ler e escrever, mas era incapaz de interpretar textos ou fazer operações matemáticas. Seu primeiro desafio era vencer isso. 

José Reinaldo também que falou que os pais foram os grandes incentivadores dessa mudança. O médico que é motivo de orgulho para os pais, disse que sem eles, não teria conseguido chegar aonde chegou.

Ele teve que se empenhar mais tarde para terminar os estudos. Foram 19 anos para chegar ao seu objetivo e disse que se tivesse tido uma base educacional melhor, teria sido mais fácil sua trajetória. O médico destacou a importância de se estudar na vida de uma pessoa. 

José Reinaldo contou que desde que optou por fazer medicina traçou uma meta. Então ele se matriculou num curso supletivo, voltou a estudar aos 20 anos e concluiu o ensino médio. Nesse período, ainda trabalhava na lavoura de café. 

Após a conclusão do supletivo, ele se matriculou num curso profissionalizante de enfermagem e quando terminou, conseguiu emprego em Alfenas (MG) no hospital universitário e em uma clínica psiquiátrica, onde trabalhou por oito anos, mas continuou estudando em casa pois seu objetivo era a medicina. José Reinaldo disse que após esse período, ele decidiu ir para Belo Horizonte. Na capital, ficou por seis meses estudando em cursinhos e por conta própria.

José Reinaldo contou que prestou vestibular para várias faculdades, mas só conseguiu ser aprovado em 2011 na Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP), na segunda tentativa, num processo seletivo difícil e muito disputado. 

Questionado se sofreu algum tipo de discriminação por ser uma universidade particular, e o curso de medicina ser caro, José Reinaldo contou que quando entrou na faculdade ninguém sabia de sua condição financeira. Segundo ele, os colegas e professores sempre o trataram com respeito e o apoiaram muito. Eles só ficaram sabendo da situação através de uma reportagem publicada na Folha de São Paulo que contava sua história.

O curso era integral. José Reinaldo contou que tinha o dinheiro para a matrícula somente. Ele ficou estudando 5 meses sem pagar. Nesse período ele pediu ajuda a pequenos empresários, amigos, familiares e fez um empréstimo, conseguindo juntar um valor de R$ 20 mil reais para pagamento dos meses em atraso. Após a publicação da Folha de São Paulo, a própria faculdade também fez uma reportagem especial contando a história e ele conseguiu uma bolsa de estudos.

José Reinaldo disse que a única vez em que pensou em desistir foi quando ainda estava em Belo Horizonte, pois foram seis meses de muita dificuldade, já que tinha levado somente R$ 2 mil reais para ficar na capital, mas como a vontade de ser médico era maior, ele continuou sua caminhada.

Devido a sua experiência como enfermeiro, José Reinaldo disse que todos os que pensam em fazer medicina deveriam passar pela enfermagem. Para ele, essa experiência faz com que ele seja capaz de conhecer melhor as dores dos pacientes e o torna um profissional mais humanizado.

Ele já está apto a atuar como clínico geral. Neste ano só pretende trabalhar para pagar os empréstimos adquiridos no período da faculdade e como já trabalhou em Alfenas, tem recebido propostas para trabalhar em hospitais de toda a região e disse que está a disposição. Depois em 2018 quer voltar a estudar em Belo Horizonte para se especializar, mas ainda não decidiu se será na área de geriatria ou psiquiatria.

José Reinaldo disse que foi bem procurado pela imprensa e acredita que sua história tenha chamado atenção por ter rompido as barreiras do analfabetismo. Para ele essa é a mensagem que quer passar: de uma pessoa que venceu as barreiras e dificuldades de mal saber ler e escrever, para chegar ao objetivo de um curso superior.

Ao final da entrevista José Reinaldo deixou a mensagem para que as pessoas valorizem a escola, que não abandonem os estudos, mesmo que não tenham meta para algum curso. Para os que estão fora da escola ele diz que sempre há tempo, que não devemos abandonar nossos sonhos. Ele também agradeceu a todos que o ajudaram em todos esses anos e disse que o sentimento maior é o de gratidão, que ele está a disposição para ajudar.

Foto: Redação Atividade FM